Recente

Saiba como lidar com as transformações físicas da meia-idade

A tal força da gravidade

Por volta dos 40 anos, como num passe de mágica, aparece uma gordurinha na cintura que não existia. Aquela calça jeans querida, de décadas, simplesmente não fecha mais. Se antes emagrecer era fácil - bastava fechar a boca por alguns dias ou ter uma semana corrida no trabalho - , agora perder um quilinho vira um sacrifício.

"É a fase em que o corpo sinaliza todo o cuidado que tivemos - ou não - nas décadas anteriores", opina a advogada Astrid Daguer Abdalla. Em outubro, ela virou quarentona e, diante dos sinais que já vinha observando, decidiu correr atrás do prejuízo. É que, ao dedicar-se integralmente à profissão, tinha virado sedentária.

O descuido com a saúde começou a ficar evidente para ela há três anos, quando problemas foram surgindo pouco a pouco: irritabilidade, dificuldade de concentração, aparecimento de acne e pelos no rosto, aumento de peso e dores no corpo. A gota d’água foi o dia em que sua coluna travou. "Percebi que era hora de mudar meus hábitos: fiz vários exames e passei a praticar atividade física, inclusive corrida", fala Astrid.

Novo metabolismo. As mudanças corporais dão os primeiros sinais por volta dos 35 anos da mulher, mas de forma ainda discreta. É a partir dos 40 que ficam mais evidentes, afirmam em uníssono os especialistas consultados. Há vários motivos para isso. Um deles é o metabolismo, que passa a ficar mais lento.

"O mecanismo fisiopatológico exato para explicar essa alteração ainda é desconhecido", avisa a endocrinologista Cláudia Cozer, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Ao trabalhar mais lentamente, o organismo gasta menos calorias e, consequentemente, tem menos necessidade de usar a energia que vem dos alimentos. No entanto, a maioria das pessoas não passa a comer menos. Assim, há maior facilidade para acumular gordura corporal e ganhar peso.

A queda da produção hormonal é outro ponto relevante durante essa fase. Acentua-se após a menopausa, geralmente por volta dos 48 e 50 anos. No entanto, Cláudia conta que a incidência de menopausa precoce (por volta dos 40) e de hipotireoidismo aumentou nos últimos tempos. Não se sabe ao certo o motivo, mas isso pode estar relacionado ao estresse cada vez maior da mulher. "Entender esse processo feminino é a melhor maneira para fazer adaptações e vivenciá-lo com mais naturalidade", conclui.

Outra reclamação comum é a flacidez acentuada. Segundo a nutricionista do Instituto Vita, Desire Coelho, esse problema está relacionado em parte à perda do vigor da massa muscular. "As fibras dos músculos têm mais dificuldade para se contraírem, o que é fundamental para o fortalecimento. É como se ficassem preguiçosas diante dos estímulos dados, por exemplo, em sessões de musculação."

Carboidratos sim. Para piorar, há redução de massa muscular, processo chamado de sarcopenia. Considerando que músculo precisa de energia para se manter, sua perda também faz o organismo diminuir o gasto energético. "O problema é que, nessa fase, as mulheres entram em desespero com o aumento de peso e cortam radicalmente o carboidrato, para emagrecer", ressalta Desire. "Com isso, a pessoa passa a utilizar como fonte de energia a proteína localizada na massa muscular, e não a gordura corporal." E em vez de "queimar" gordura, perde mais massa muscular.

A dobradinha "dieta equilibrada e atividade física" deve ser o mantra daquelas que não querem deixar a peteca cair. Mais ainda entre as sedentárias que conseguiam ter um corpinho em cima, mas que, depois dos 40 anos, terão muita dificuldade para continuar com o mesmo padrão físico. "Pesquisas provam que se pode obter ganhos consideráveis com exercícios em qualquer idade", afirma o médico clínico e especialista em medicina esportiva, Luiz Riani.

Com o preparador físico e especialista em fisiologia, Fábio Medina, o médico atende cada vez mais mulheres que entram assustadas na meia-idade. No Núcleo da Mulher, eles mantêm um programa específico para esse público. Muitas reclamam de cansaço, dores no corpo e, principalmente, insatisfação com a imagem. "Quem não tinha uma vida ativa acaba sentindo precocemente as diferenças", observa Riani. "E quem sempre praticou atividades procura ajuda mais para frente."

Rastreamento. Para realizar um trabalho corporal focado nos problemas típicos da idade, recomenda-se fazer avaliação clínica minuciosa. Por meio de exames, avalia-se a capacidade dos sistemas cardiovascular, pulmonar, muscular e endócrino-metabólico (hormônios e gasto energético). Aí, então, é traçado um plano de condicionamento físico.

"O que mais tenho indicado às mulheres é a corrida, porque, além de aumentar o gasto calórico, o impacto sobre os ossos reforça a calcificação, ajudando a evitar osteoporose", diz o treinador e fisiologista Fabio Medina. "Mas há várias outras alternativas para quem não gosta dessa modalidade."

Musculação é também fundamental para aumentar a massa muscular, ao mesmo tempo em que combate a flacidez, ajuda a acelerar o metabolismo e protege o corpo de lesões.

Estudos comprovam a importância de se praticar treinos variados - em vez de repetir todo dia a mesma atividade ou ritmo. Riani e Medina, que também são pesquisadores da USP, explicam que o corpo precisa de desafios constantes para não se "acostumar". A dica é fugir da monotonia, estimulando o organismo, ao variar intensidade e volume das atividades. Sempre sob orientação profissional, para evitar lesões sérias.

CARTILHA DA MEIA-IDADE

DIETA


Soja: rica em fitoesterois (substâncias naturais que atuam no copo como estrogênio), atenua efeitos da menopausa. Prefira grãos e sucos feitos com extrato (pó).

Omega-3: em cápsulas ou numa dieta rica em sardinha, salmão, linhaça.

Leite e derivados: fuja, porém, de queijos gordos.

MALHAÇÃO

Corrida: ajuda a reforçar a calcificação e a prevenir osteoporose.

Musculação: faz perder calorias, combate flacidez e lesões.

HORMÔNIO

Exames: acompanhamento periódico da taxa hormonal. 

Fonte: Estadao.com

Nenhum comentário