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Especialistas indicam como evitar e tratar problemas de coluna e joelho

Dores na coluna, dores no joelho, dores em qualquer articulação. Quem nunca sentiu? Crianças, jovens, adultos, idosos: sem os cuidados necessários, ninguém está livre desses pequenos ou grandes incômodos.

Pesquisas mostram que cerca de 80% da população mundial já apresentou uma ou mais de uma crise de lombalgia, ou seja, problemas na parte mais baixa da coluna, a região lombar. As causas são variadas, mas os maiores números apontam para os problemas mecânico-posturais, isto é, aqueles causados por esforços repetitivos ou por postura incorreta.

É a nossa falta de atenção nas atividades do dia-a-dia que pode se tornar a causa dos nossos problemas futuros. São pequenos cuidados como escolher o colchão e o travesseiro adequados, saber a posição correta para dormir, utilizar tênis apropriados nas atividades físicas, entre outros, que fazem a diferença nos possíveis problemas de coluna.

De acordo com o ortopedista Dr. Rogério Barboza, diretor médico do Hospital Geral do Estado de Alagoas e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, medidas simples poderiam evitar boa parte dos problemas de coluna na população.

“Normalmente, os problemas de coluna mais comuns desenvolvem-se numa faixa etária adulto-jovem, entre 20 e 30 anos, mas, atualmente, crianças e adolescentes estão apresentando cada vez mais esses sintomas, principalmente por conta do excesso de peso nas mochilas. Isso quer dizer que, se houvesse um cuidado preventivo, muito sofrimento poderia ser evitado”, explica Dr. Rogério.

É o caso de Maria Edilza da Silva, de 41 anos, que há muitos anos tem problemas na coluna, mas nunca procurou um especialista para tentar resolver seu problema. “Eu tenho consciência que no meu dia-a-dia eu faço muitas atividades que prejudicam minha coluna, e eu não tenho cuidado ao executá-las. Quando eu tenho crise, tomo algum remédio comum, e, já que as dores vão embora momentaneamente, eu esqueço o problema. Só me lembro quando a dor volta”, afirma.

E o médico dá dicas simples para quem quer passar bons anos de suas vidas bem longe de problemas como esse. “Para adiar certos problemas inevitáveis que devem chegar com a idade por conta do desgaste das articulações, basta que as pessoas mantenham bons hábitos de vida. Elas devem evitar engordar, principalmente na região abdominal, pois essa gordura sobrecarrega as costas; devem praticar atividades físicas para alongamento da coluna e equilíbrio das musculaturas abdominal e paravertebral (músculos que auxiliam na manutenção da postura ereta); devem procurar dormir na posição ‘padrão-ouro’, que é de lado, com um travesseiro de espessura média, que preencha o espaço do pescoço e deixe a coluna ereta, e um outro travesseiro entre as pernas; e se houver necessidade de levantar peso, procurar flexionar o quadril e o joelho, trazer o peso para o tronco e levantar. Para as mulheres, muito cuidado com o tamanho das mamas, que também pode prejudicar a coluna”, continua o médico.

Além da lombalgia, existem outros problemas que podem afetar a população por diversas causas. A hérnia de disco, por exemplo, pode ser causada por diversos traumas na coluna, que levam, com o passar do tempo, a lesões na estrutura do disco intervertebral; ou pode ser causada por um trauma brusco sobre a coluna. Devido às causas variadas, a hérnia de disco pode atingir a pessoas de qualquer idade.

Menos comuns são a estenose do canal vertebral e a espondiloartrose, mais conhecida como “bico de papagaio”. A primeira consiste no estreitamento do canal por onde passa a medula, comprimindo-a e causando dores. A segunda é um processo degenerativo devido à sobrecarga da coluna, que pode ser causada por levantamento de peso diário ou movimento repetitivo de flexo-extensão. A espondiloartrose deve, eventualmente, atingir todas as pessoas um dia, em uma faixa etária entre 60 e 70 anos. Mas, para aqueles que têm o levantamento de peso incorreto como atividade diária, o problema pode surgir aos 35 ou 40 anos.

Além desses problemas, ainda existem a osteoporose, que é mais comum em mulheres e consiste na diminuição substancial da quantidade de massa óssea, resultando em ossos ocos, finos e frágeis; os tumores, bem mais raros e mais difíceis de identificar, já que os sintomas são os mesmos de uma lombalgia; e os processos inflamatórios, que podem surgir em qualquer idade.

Sobre os tratamentos, cada caso em especial precisa de um. São medidas como miorrelaxantes (medicamentos para relaxar a musculatura), antiinflamatórios e analgésicos, aliados à fisioterapia, RPG ou Pilates, que são as mais recomendadas pelos especialistas. O uso de colete, por exemplo, só é recomendado em casos extremos, quando os pacientes apresentam dor aguda e pouco ou nenhum movimento da região. Lembrando que, ao serem constatados os sintomas, os pacientes devem ser encaminhados a um médico antes de iniciar qualquer tratamento.

Isostretshing

Em se tratando de tratamento, a fisioterapia é, hoje, a maior aliada dos médicos ortopedistas. Além dos medicamentos, que proporcionam alívio a curto prazo, a fisioterapia surge como um tratamento a longo prazo, mas que proporciona qualidade de vida através da prevenção e do tratamento das disfunções nos movimentos humanos.

É da fisioterapia que vem o tratamento de coluna Isostretshing, criado pelo francês Redondo, em 2004. O método consiste na soma do exercício resistido isométrico (iso), ou seja, o exercício que envolve uma contração muscular sem a mudança no comprimento do músculo, mais o alongamento (stretshing), mais a respiração com o autocrescimento, isto é, quando o paciente faz o exercício do alongamento da coluna, como se ele quisesse crescer.

Em Alagoas, Érika Prado, fisioterapeuta especialista em Cinesioterapia, pesquisa para sua tese de mestrado o efeito dessa técnica em pacientes com lombalgia crônica, ou seja, com causa inespecífica. No Brasil, a técnica já é bastante difundida em clínicas, mas ainda não há um estudo com uma boa amostra metodológica que mostre os resultados nos pacientes.

“Outras pesquisas já mostram os efeitos isolados do alongamento e dos exercícios resistidos, mas a união dos dois é algo inovador. Se conseguirmos provar a eficiência desse método, vamos mudar a cara da profissão. Não é só o uso do medicamento que é eficaz, é a soma do trabalho reumatológico-ortopédico com a fisioterapia, que é um tratamento gradativo”, afirma Érika.

Há mais de 2 anos, Érika e mais 4 profissionais trabalham gratuitamente em uma clínica-escola com pacientes com lombalgia crônica. Até então, 31 pacientes entre 18 e 55 anos já foram atendidos, e apresentaram bons resultados em 12 sessões, 2 vezes por semana.

“Para avaliarmos a evolução do tratamento, utilizamos quatro questionários, que devem ser preenchidos pelos pacientes nas categorias de ‘qualidade de vida’, ‘incapacidade’, ‘dor’ e ‘satisfação’. Todos os pacientes apresentaram melhoras nos quatro indicadores. O isostretshing é um tratamento gradativo, que possibilita a diminuição da dor através do ganho de força muscular e de flexibilidade”, conclui a fisioterapeuta.

Ainda segundo Érika Prado, o tratamento é associado à medicação indicada pelo ortopedista, e os pacientes que passam pelo tratamento devem continuar praticando exercícios físicos com acompanhamento para manter as funções em um bom nível.

Problemas de joelho

Não são só os problemas de coluna que, literalmente, tiram o sono da população. Os problemas de joelho também são mais comuns do que muitos imaginam, e podem ser causados por diversos fatores.

Segundo Dr. Rogério Barboza, os problemas mais comuns são as tendinopatias, ou seja, o processo de comprometimento dos tendões. As tendinopatias podem ser caudadas pela falta de atividade física, fala de alongamento necessário ao praticar esportes, falta de flexibilidade, entre outros.

Além das tendinopatias, existem os problemas no tendão patelar, ou “pata de ganso”, como é popularmente conhecido, que é a parte de dentro do joelho, onde três tendões se encontram, formando uma espécie de pata; e também existem as dores patelo-femurais, que são as condromalácias (entre a patela e o fêmur), que são resultado do comprometimento da cartilagem devido a um desequilíbrio no quadríceps, músculo da coxa.

As outras lesões podem ser entorses, causando problemas no menisco e nos ligamentos, que normalmente acontecem em quedas ou em atletas de fins de semana, desacostumados a exercícios; ou podem ser artroses, que são processos degenerativos da cartilagem, que fazem com que os ossos fiquem sem proteção e se encontrem.

“Cada paciente vai necessitar de um tratamento específico, que pode ir do conservador, que são os antiinflamatórios, analgésicos e a fisioterapia, até o procedimento cirúrgico, dependendo da gravidade do caso”, declara o ortopedista.

Mariana Lins, por exemplo, tem 23 anos e costumava jogar basketball quando era adolescente. Em um dos campeonatos que jogou, Mariana rompeu o Ligamento Cruzado Anterior (LCA) e teve lesão meniscal, precisando passar por cirurgia.

“Apesar de ter perdido cerca de 6 meses de treinos e jogos por conta da lesão, depois da cirurgia e da fisioterapia eu pude voltar às minhas atividades normais. Hoje, tenho um personal trainer que orienta meus exercícios”, afirma a estudante.

As orientações para quem quer evitar possíveis problemas no joelho também são simples: evitar engordar, porque os nossos joelhos sustentam todo nosso peso quando estamos em pé; procurar orientação para os exercícios físicos, já que o excesso de peso nos exercícios também compromete a articulação; e ter cuidado nas atividades cotidianas, como caminhar e correr: deve-se usar tênis com amortecedor, que são apropriados para essas atividades.

De acordo com o fisioterapeuta Aldir de Miranda, os principais exercícios para tratamento dos problemas mais comuns de joelho são os de reequilíbrio dos músculos, alongamento e fortalecimento.

“As tendinopatias são decorrentes de esforço repetitivo. Pequenas rupturas acontecem no dia-a-dia, em qualquer movimento rompe-se uma fibra ou outra, mas elas são regeneradas. Com o esforço repetitivo, não dá tempo de isso acontecer, e a inflamação ocorre. A partir daí, temos que trabalhar a resistência da musculatura”, esclarece Aldir.

Já as lesões de menisco e ligamento exigem, além do trabalho de fortalecimento e reequilíbrio, exercícios de agilidade e propriocepção, ou seja, exercícios para a percepção do posicionamento articular, isto é, quando o paciente precisa reaprender a utilizar corretamente seus músculos.

Artroses, por exemplo, já exigem fortalecimento para que os pacientes tenham mais segurança de caminhar e para amenizar o desgaste da cartilagem; quanto mais fraca a musculatura, mais rápido será o desgaste. Entorses também exigem trabalhos de fortalecimento, para que o paciente aprenda como a articulação se encontra e para que ele saiba usá-la corretamente.

“Se alguém sofre qualquer tipo de lesão, esse alguém vai ter dificuldades em saber do posicionamento da musculatura. Por isso, nós temos que trabalhar o alongamento e o fortalecimento. O fortalecimento na fisioterapia é diferente do da academia, vale ressaltar; os pacientes precisam se informar e saber de suas necessidades”, afirma o fisioterapeuta.

Para finalizar, Aldir de Miranda chama a atenção das mulheres: saltos altos prejudicam, e muito, os joelhos. Usar calçados apropriados é imprescindível para o cuidado com os joelhos, além da atenção com o peso e o jeito de pisar.

“Quando nós, fisioterapeutas, vemos mulheres de salto, nós já vibramos, porque sabemos que vamos ter emprego. Mulher usando salto, apesar de ser bonito, é problema para o futuro na certa”, brinca o especialista.

por Marcela Sampaio

Fonte: GazetaWeb.com

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