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Tédio na academia indica que sensação de prazer esta em declinio, afirmam estudos.

Nem sempre o que acabam de lançar é o que mais serve para você

Você se entedia facilmente? Se a resposta foi sim, é provável que você esteja constantemente procurando algo novo para fazer, certo? Segundo a neurociência, o tédio é um sinal de que o sistema de recompensa do cérebro, aquele que gera as sensações de prazer, está em declínio. É por causa dele que, depois de repetir as mesmas atividades muitas vezes, por mais interessantes que elas tenham sido nas primeiras vezes, você tem dificuldade de se divertir tanto quanto da primeira vez. E esse tédio que nos toma é o que alimenta todo um mercado de novidades, sempre produzindo estímulos para nosso centro cerebral do prazer funcionar plenamente. Como nos cansamos do velho, celebramos o novo com alegria e o trazemos facilmente para dentro de nossas vidas. Mire-se no exemplo do que as empresas de telefonia celular fazem com a gente todos os Natais. E quando o assunto é saúde? Será que trocar o antigo pela novidade só pelo prazer da mudança é uma boa escolha?

Certos empreendimentos não sobrevivem sem lançar novidades de tempos em tempos. As academias de ginástica são o tipo de negócio com dificuldade para reter clientes. Quem não é apaixonado por exercício se entedia rápido e vai embora mesmo. Para evitar o tédio, as academias têm de provocar o cérebro dos alunos com invenções pirotécnicas pelo menos algumas vezes por ano. Eventos barulhentos, aulas temporárias com efeitos especiais, uniformes novos, festinhas animadas, fantasias, luzes coloridas, equipamentos surpreendentes, tecnologias inéditas... A equipe do departamento de marketing não pode parar de criar mudanças na rotina dos clientes, senão eles procuram outra coisa para fazer, fora dali.

Mas qual é mesmo o serviço que a academia de ginástica oferece? Cuidado com o corpo, né? Saúde. Prevenção de doenças e proteção contra lesões. Longevidade. Nada a ver com pirotecnia, certo? Não que as festinhas sejam ruins, longe disso. Elas são importantes para motivar. O problema é ir na onda dos lançamentos só para sair da rotina, esquecendo o verdadeiro motivo para ir à academia.

Quando lançaram aulas baseadas na suspensão do corpo e na ação da gravidade, do ano passado para cá, fiquei curiosa e fui testar. No discurso dos professores, as aulas novas são bacanas porque usam o peso do próprio corpo para gerar resistência, se aproveitam da instabilidade do corpo inclinado para fortalecer as musculaturas de sustentação do tronco (o chamado core) e podem ser praticadas com intensidades progressivas. Mas, na prática, achei que não serviam para substituir minha série de musculação. Não me convenceram como uma boa atividade para o que eu procuro. Mas talvez se encaixassem bem no que outras pessoas querem. Como saber se a novidade vale a pena ou não?

Para o educador físico e pesquisador Paulo Marchetti, a resposta está no seu objetivo com a atividade física. Para quem pretende desenvolver força, pra que perder tempo fazendo exercícios divertidíssimos de resistência? Vá fazer exercícios de força. Se a atividade foca o fortalecimento do core e o equilíbrio, ela serve para... quem precisa de core forte e equilíbrio. Se a aula foca só a diversão... bem... talvez ela tenha alguma utilidade para quem tem como prioridade espantar o estresse. Mas não vá achar que ela serve também para todo o resto.

Se você é do tipo que precisa de novidades na sua rotina de exercícios, senão sai correndo de tédio e não volta mais, converse com alguém no lugar onde você treina e peça sugestões para variar alguma coisa sem fugir da sua meta. Vai ser mais inteligente dar um pouco mais de tempero para a atividade de sempre, se ela funciona bem para o que você busca no longo prazo, do que escapar para outra coisa que deixe você animado por alguns minutos.

Fonte: Revista Época

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